“A música é um instrumento de salvação”
Quem segue a Bus Ride Notes, no Facebook ficou sabendo sobre a dica para o fim de semana: a plataforma Looke disponibilizou o documentário para ser visto de graça por alguns dias.
O filme tem uma pegada totalmente punk rock/hardcore, não só pela trilha sonora, mas também por ir direto ao ponto e não enrolar muito para chegar em conclusões. Dura menos de 40 minutos e não é nem um pouco cansativo de assistir. As cenas antigas dos roles são o ponto alto da produção para mim, que adoraria ter conhecido esses roles quando tinha meus 15 anos.
Ele conta resumidamente a história da cena independente paulistana, principalmente do movimento RIOT GRRRL, e assim vemos relatos sobre como essas minas vem conquistando na base da porrada e do talento seu tão merecido espaço. Porém ainda falta mais respeito.
As garotas entrevistadas no documentário fazem parte da cena e são integrantes de algumas das seguintes bandas: Charlotte Matou Um Cara, Pitty, Dominatrix, Papisa, Lâmina, The Biggs, Bertha Lutz, Far From Alaska, Plutão Já Foi Planeta, Supercombo, Ventre, In Venus, entre outras.
No documentário a música é exposta como meio de comunicação que explana idéias do manifesto feminista, com mensagens aceleradas e indo direto ao ponto, pois não existe (ainda) espaço grande o bastante para falarmos sobre os aspectos do movimento e suas pautas em grandes veículos mediáticos. Tornando o som que essas minas criam uma forma de difundir esse conhecimento para o maior número de pessoas, além de ajudar as meninas a entenderem que são completamente livres e possuem força para conquistar aquilo que querem.
As bandas falam muito sobre o machismo velado dentro da cena de música independente, sobre a tragédia do aborto ilegal, celebram a diversidade de cada mulher e de seu desejo de nos expressar. Tocam no assunto da objetificação do corpo feminino e paternalismo que ainda acontece, principalmente com mulheres fortes que precisam assumir uma postura mais agressiva perante a sociedade. E sobre como é importante que cada vez mais mulheres se libertem das amarras sociais instaladas pelo patriarcado ao longo de toda nossa história e dia a dia.
Elas fortalecem umas as outras através desse movimento
Assistindo ao filme fica impossível não entender o verdadeiro significado de sororidade. Exemplo claro disso são os selos femininos como o HÉRNIA DE DISCOS que além de dar aquela força também ajudou a montar a primeira edição BR do GIRLS ROCK CAMP, que se trata de um acampamento de férias onde garotas aprendem a tocar instrumentos, mas não só isso: a experiência agrega no empoderamento de meninas através da música.
Ao assistir umas as outras, as meninas se vêem representadas e ganham mais confiança no próprio potencial e finalmente conseguem se entender como humanos com valor e talento.
Não lembro o nome da senhora da HÉRNIA que disse isso (assista!), mas, muito satisfeita, revelou que essa é sua herança para a humanidade.
ALL GIRLS TO THE FRONT
O documentário também faz um paralelo com o movimento RIOT GRRRL norte-americano que só vai dar as caras em território tupiniquim no começo dos anos 90, foi quando a galera conseguiu trazer umas cassetes do Bikini Kill da gringa.
A Partir daí a coisa só cresceu. Anos depois, em 2003, surgia a e-zine HARD GRRRLS que tinha foco na divulgação do som independente feminino e feminista.
Essa zine gerou uma comoção entre as bandas que começaram a se conhecer e resultou no HARD GRRRLS FEST, que aparentemente foi muito foda, mas acabou em 2006. Ainda rolam uns revivals de vez em quando, então melhor ficarmos atentas.
Concluindo: as mina são fodas! O documentário é interessante e prende a atenção do começo ao fim, toca em assuntos importantes, passa algum tipo de conhecimento e como todo bom documentário nos proporciona um exercício de empatia. Tipo assim, assistam.
Jornaleira, grunge, só quer fazer um trabalho decente. É amante música ao vivo e livre.