Bus Ride Notes
Entrevistas

Entrevista: Borduna

Formada por Cleber Zeferino (baixo), Everton Severo (guitarra), Fabiano Caliari (bateria) e Rudinei Picinini (vocal), Borduna faz um som influenciado por post hardcore e emo.

A banda já lançou três EPs, Borduna (2019), 514​/​s (2020) e Postais (2021), e um single, Constantinopla (2021), e em cada lançamento ouvimos uma faceta diferente dessas influências.

Conversamos com Borduna sobre a história da banda, os lançamentos mais recentes, a cena de Caxias Do Sul e mais.

Vocês podem falar um pouco sobre a banda pra quem não conhece?

A Borduna começou aos poucos em 2014, onde a ideia era a gente se reunir e compor sons autorais, a partir de influências do post-hardcore, do hardcore/punk e do hardcore melódico, entre outros subgêneros. Naquele período testamos vários baixistas, tentamos até ser um power trio, até que felizmente acabamos encontrando em 2016 o Cleber, assim a banda começou a fluir de verdade.

Como os quatro têm diversas influências e nós sempre estivemos abertos à experimentação, a gente acabou seguindo uma linha mais post hardcore. Sabíamos que todo mundo em algum nível gostava de hardcore, mas ao mesmo tempo queríamos ter flexibilidade para experimentar sonoridades diferentes. Além disso, a aproximação com o hardcore se dá muito na construção do discurso do conteúdo das músicas e, claro, naquilo que é a nossa verdade, as nossas atitudes, porque não dá pra ser um personagem. Se cantamos sobre algumas temáticas, é porque acreditamos.

Desde de 2019, lançamos dois EPs, um compacto e um single em uma coletânea do selo do qual fazemos parte, o Alforge Records. Boa parte desse material foi lançado durante a pandemia, pois já havíamos produções encaminhadas antes dessa situação toda. E apesar de termos feito shows em nossa cidade e estado e até uma mini tour pelo sul do país em 2019, antes de tudo parar, ainda esperamos nos encontrar com as apresentações ao vivo em estados mais distantes que o nosso.

Já de cara percebemos que “Postais” tem uma sonoridade um pouco diferente dos outros lançamentos da banda, mas ele também tem toda uma estética distinta. Vocês podem falar mais sobre ele?

Essas faixas também não são tão atuais, porém a gente crê que diz muito sobre o período em que estamos vivendo. Pra ter uma ideia, a gente quase desistiu de lançar esses sons! Só que com a pandemia e tudo isso que a gente vem passando as músicas ganharam outros significados. Aí a gente resolveu tirar da gaveta e produzi-las novamente.

Esses sons nasceram em uma época que a banda se reunia muito pra compor, e como a gente curte afu algumas bandas emocore, principalmente, dos anos 80 e 90 e dessa safra nova, que muito chamam emo revival, alguns riffs nessa levada saíram e ocasionaram esses sons. A gente sempre brincava que esses eram os sons mais emocore da banda.

E realmente há uma diferença clara desses sons para os anteriores, mas mesmo mais introspectivos nós não deixamos de ser políticos. A gente é político a todo tempo, porque nós escolhemos viver em sociedade, esse é o real significado etimológico da palavra político. As batalhas que travamos na nossa cabeça, também são reflexo desse espelho social. Fazer música, artes plásticas, escrever ou se apoderar de qualquer outra manifestação artística é canalizar o bom e o mal da relação da vida com sociedade e mandar de volta.

E como foi o processo de composição de “Postais”? Foi diferente do que vocês estão acostumados?

Na real diferente mesmo não chegou a ser, pois as faixas já existiam de maneira solta, hibernando naquela gavetinha do “quem sabe no futuro a gente conversa”. Ambas as músicas nasceram antes mesmo do Cléber entrar na banda, acho que naquela época a gente tinha uma energia reprimida e saiu jorrando composição… hehehe.

“Verdades”, por exemplo, foi a terceira música que fizemos quando começamos a escrever conjuntamente. Assim, o maior trabalho se deu na produção, dentro do estúdio. Foi tudo realizado de maneira remota, praticamente. Então foi esquisito na parte de gravação, já que a gente mal se viu, né? Era gravar e ir embora. E o mais curioso é que desse jeito pragmático, esse período foi o período com o maior número de produções. Ficar em casa não foi tão mau negócio, olhando por esse lado. Além disso, já tínhamos a bagagem das experiências anteriores e sabíamos o que nós não queríamos. Saber o que não se quer, talvez seja tão ou mais importante do que saber o que se quer.

Vocês podem falar sobre a parceria com a Alforge Records e “Constantinopla”, a música que vocês gravaram pra coletânea do selo?

Nossa parceria com o selo é de longa data, já que dois dos integrantes são co-fundadores do coletivo, que conta com outras pessoas do rolê de Caxias. O selo tem sido parte central do relacionamento que a gente construiu com bandas de outras cidades, a coletânea nada mais é uma ação que materializa esse movimento.

Falando um pouco da faixa, “Constantinopla” é um som que a gente já tentou executar diversas vezes e sempre ficava algo pra trás. Esse som era uma das faixas novas que iria pra um próximo trabalho, só que ele destoava das outras faixas. Aí rolou a coletânea do Alforge Records e então decidimos colocá-la no balaio. Engraçado é que esse som foi gravado e produzido em tempo recorde! Já que o deadline estava em cima, todo mundo deu aquela corrida pra fazer.

Talvez esse seja um dos sons mais enérgicos que já fizemos, queremos muito executá-lo ao vivo assim que for possível. De preferência em um rolê com outras bandas que participaram da coletânea, pra que a gente possa continuar fortalecendo esse movimento juntos.

Falando nisso, vocês podem falar um pouco sobre a cena de Caxias Do Sul?

A cena de Caxias é uma cena rica, sabe? Há diversas bandas que vêm fazendo um trabalho bem interessante. As bandas que estão presentes na coletânea já são um ótimo parâmetro! Num geral, tem muito trabalho de destaque, muito bem produzidos, de bandas bastante engajadas naquilo que se propuseram a fazer.

O legal é que apesar dos últimos dois anos ter esfriado as coisas pra todo mundo, pessoal segue otimista e querendo produzir. A gente acredita que esse gás fará a diferença quando for seguro realmente voltar a fazer shows. A nossa única preocupação são os espaços destinados a apresentação de bandas independentes, esperamos que seja possível construir novos lugares depois de tudo isso.

Fotos: Gustavo Anceski

Vocês comentaram em entrevista ao blog Albergue que já têm material pra lançar um disco completo ou dois EPs. O que vocês podem nos dizer sobre os próximos planos da banda?

Então, no fim do ano passado batemos o martelo e decidimos lançar um disco completo. Será um full com umas 8 ou 9 faixas. É barulho pra caramba! Além disso, queremos trabalhar de uma maneira mais rebuscada neste disco. Pra nós, é um passo importante. Então, queremos deixar tudo bem enlaçado pra apresentar um som e vídeos interessantes pra quem estiver interessado em assistir/ouvir.

Neste momento, ainda não temos um nome pra este trabalho. Estamos trabalhando os detalhes nos ensaios, mas logo partiremos para a gravação das guias. Tem sido um desafio legal pensar um disco cheio e esperamos usar toda a experiência dos trabalhos anteriores para darmos mais um passo adiante.

Últimas considerações? Algum recado?

Fora Bolsonaro, apoiem o artista local e o independente, seja comprando o som das bandas no bandcamp, camisetas ou mandando pix. Além disso, valorize o pessoal do audiovisual independente, do design, das zines e da produção cultural, entre outros. Também leia blogs que falam sobre música independente de verdade, como Bus Ride Notes. E por último, lembrem-se: o Spotify é uma máquina de triturar artistas.

A discografia de Borduna está disponível no Bandcamp e nas redes de stream.