O festival ocorreu dia 20 de Abril de 2019 e essa resenha foi originalmente publicada no meu blog, mas eu acho importante compartilhar aqui também.
Garotas à Frente foi um festival feminista. Não diria que o show do Pussy Riot foi um detalhe, mas o festival foi muito mais do que isso.
A Powerline é uma produtora de shows que traz pro Brasil bandas não tão mainstream, mas com um bom público fiel. Em 2018 trouxeram Against Me! e lançaram a edição em português do livro “Tranny”, de Laura Jane Grace, vocal da banda.
Esse ano eles fizeram o Garotas à Frente pro lançamento da edição em português(finalmente!) do livro de mesmo nome, de Sara Marcus que conta a história do movimento riot girl nos EUA nos anos 90. E com o show do Pussy Riot foi também o lançamento da edição em português do livro “Um guia Pussy Riot para o ativismo” de Nadya Tolokonnikova, uma das fundadoras do Pussy Riot, da editora Ubu.
O festival teve exposições do Guerrilla Girls, um coletivo formado em Nova York em 1985 cujo objetivo é combater o sexismo e o machismo no mundo da arte questionando a presença de artistas mulheres em grandes instituições de arte e museus pelo mundo. E das artistas brasileiras Aline Lemos (Desalineada), Bruna Morgan (Universo em bolha de tinta), Larissa Oliveira (I Wanna Be Yr Grrrl), Jane Herkenhoff, Renata Nolasco (Atóxico) entre outras.
Houve também exposição dos trabalhos feitos na oficina de stencil e lambe realizada pelo Girls Rock Camp Brasil, no mesmo dia do festival.
O Girls Rock Camp é uma iniciativa linda que em 2013 chegou ao Brasil, “é um acampamento musical de férias, exclusivo para meninas. Onde durante uma semana, meninas com idades de 7 a 17 anos são convidadas a ter uma experiência empoderadora, muito divertida e completa no mundo da música. Em meio a atividades de fortalecimento de autoestima, desinibição, trabalho em grupo, elas aprendem a tocar um instrumento, formam uma banda, fazem uma composição inédita e uma apresentação ao vivo, aberta para os pais, familiares, amigos e toda a comunidade.”
A poetisa Ingrid Martins se apresentou “com sua poesia autoral que fala de suas vivências e dificuldades, mostra representatividade, empoderamento e visibilidade”. Ela faz parte do Slam das Minas que nasceu em 2016, no mês da mulher, “para criar um espaço de voz e acolhimento, feito pelas e para as minas, monas e manas além de garantir uma vaga feminina para o Slam BR”. E só hoje eu descobri o que é slam: LEIA AQUI.
Bloody Mary Una Chica Band, como o nome já diz é uma banda de uma mulher só, a multi-instrumentalista Marianne Crestani toca guitarra, bateria e canta ao mesmo tempo “um garage noise com volume alto e som distorcido, batida certeira, voz rasgada”. É um show incrível.
Eu creio que Sapataria é a banda brasileira que melhor define o queercore: nome engraçadinho, punk rock e letras focadas na vivência LGBTQ+. É a típica banda “tapa na cara” que você ama.
Elas conseguiram se expressar muito bem e sabem da importância disso, pois distribuem zines com as letras das músicas nos shows. Shows que são de arrepiar pois a banda tem uma enorme presença de palco e consegue usar com maestria a energia linda do punk/hardcore que te faz canalizar o ódio e revolta contra as injustiças do mundo em algo construtivo: resistência.
SAPATAS DE TODO O MUNDO: UNI-VOS!
Pussy Riot é aquele coletivo russo que fazia intervenções com balaclavas(depois delas é que todo mundo descobriu que “balaclava” era uma palavra e aquelas máscaras tinham nome) coloridas tocando punk protestando o Putin e em 2012 foram presas por fazer uma intervenção em uma igreja.
Depois que as integrantes saíram da prisão o coletivo seguiu com intervenções, lançou músicas, dessa vez eletrônica e começou a fazer shows.
O show é uma grande intervenção audio visual, muita informação num telão enquanto a banda toca. Junto do novo trabalho eletrônico tocaram duas músicas que tocavam nas suas primeiras intervenções na Rússia, incluindo “Mother of God, Drive Putin Away”, mais conhecida como “Punk Prayer”, a música que tocaram na intervenção em que foram presas. O show foi incrivelmente divertido, as vezes parecendo uma rave. Uma brisa.
Era visível a grande presença da mídia no Garotas à Frente. Não surpreende, eventos como esse são extremamente importantes e infelizmente muito raros. Espero que esse seja o começo de uma mudança necessária.
Ex colaboradore das antigas Six Seconds e Calliope Magazine e alguns blogs de música. Resolveu fazer o próprio site enquanto não tem dinheiro o suficiente pra fazer uma versão BR do Audiotree Live.