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Resenhas

Pata – Shit & Blood

Pata é um powertrio de Belo Horizonte, formada em 2017 por Lúcia Vulcano (guitarra e voz), Luís Friche (baixo) e Beatriz Moura (bateria), e no mesmo ano lançaram seu primeiro EP “Wild and Cabeluda”. Em Junho de 2019 lançaram o primeiro disco “Shit & Blood”.

“‘Shit & Blood’ é a construção de um subjetivo feminino que foi concebido com merda e sangue. São dez músicas que constroem a narrativa de uma persona que se tornou mulher – assim como disse Simone de Beauvoir – e está imersa nesse mundo com suas estruturas sufocantes e deterministas”.

Vemos isso já na capa do disco (por Lorena Bonna, também das bandas Whatever Happened to Baby Jane e Roberta de Razão), que traz a ilustração de uma mulher sentada no vaso sanitário de um banheiro desarrumado com a calcinha abaixada mostrando um absorvente sujo de sangue e merda (“blood” e “shit” em inglês).

“Shit & Blood” é grunge puro e, assim sendo, é claro que as letras são um tanto pessimistas. O disco começa com “Downer” falando “não diga que eu não avisei!”. Mas isso não quer dizer que elas são tristes, se você prestar atenção nas letras de grunge você vê que a maioria é, na verdade, um desabafo.

E o que a gente vê no disco todo é um tom de desabafo e deboche, “Selvagem e Cabeluda”, a única música em português do album, mostra bem isso. Entre gritos de “Ô seu bosta! Para de olhar pra minha bunda!”, ela narra o que as mulheres começam a enfrentar no fim da infância e têm que aturar a vida toda: os padrões impostos pela sociedade.

“Eu era uma criança e de repente eu era mulher adulta e tinha que fazer coisas que os outros achavam que eu deveria fazer? Feche as pernas, não fale alto, não engorde. Eu quero ser livre, eu quero ser porca, eu quero ser eu. Eu quero destruir o patriarcado”.

“Downer” foi lançada como single em abril de 2019, a letra da música tem tudo o que você diz (ou quer dizer) naquele dia bosta quando você já tá exausto da vida acumulada. A barulheira e gritaria energizante ajuda no “descarrego”. O clipe da música segue uma menina-demônia que sai por aí pentelhando todo mundo que ela encontra pela frente.

Algumas músicas têm nomes auto explicativos, além da já citada “Downer”, temos “Life Doesn’t Get Better (It Gets Worse)” e “Therapy Session”, “I wish you could give up on me. And I could finally give up on myself too”.
Quando você começa a fazer terapia ou quando ela não tá funcionando a frustração é enorme e, acredito que, o sentimento universal. Sempre que ouço essa música lembro de “Therapy” da banda israelense Not On Tour e vice-versa, “After all this, say I need a psychiatrist?!

“Monster” é uma das músicas do disco que mistura várias sonoridades, começa com riffs sujos e guitarras distorcidas pra se tornar uma balada com violão enquanto a letra narra a transformação de uma garotinha em um monstro.

“The Witches” tem um som denso e sombrio e traz a narrativa de vingança das bruxas contra seus opressores, “Look out for the shadow, you might see something you don’t wanna stare at so long”.

Em abril de 2020 a banda lançou o clipe da música, que começa com imagens de filmes de terror antigos misturadas a imagens ao vivo da banda e termina com cenas de protestos recentes. Protestos contra a brutalidade das injustiças e desigualdades (que ironicamente é recebido com mais brutalidade policial), o que remete à imagem de “bruxas” modernas enquanto, em coro, a letra canta “We are gonna burn your house. We are gonna pray for the Sun. We are gonna make you pay for your crimes and it will be so fun”.

O disco que começa com “I hate every single day I lived so far” termina meio como uma resolução de ano novo com a melancólica e otimista “Next Year”, em um resumo que eu acho que posso descrever como o popular “vamo que vamo”:“Next year everything won’t be the same, I won’t be up all night with my regrets, I will forgive myself and try again”.

“Shit & Blood” está disponível no Bandcamp e nas redes de stream.

Essa semana a banda lançou a música “blsnr pnt mrch”.