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Entrevista: Güettoh 

Posso dizer seguramente que o skate foi a minha porta de entrada para o universo underground. Talvez no início não tão underground, levando em consideração que o rock nos anos 90 circulava no top 10 da MTV, e assim o foi até a década seguinte.

Mas imagens do skate em clipes de bandas como Fu Manchu, Offspring, assim como a trilha sonora presente em vídeos de skate na época se tornaram emblemáticas, deixando bem claro, pelo menos para mim, que o skate nasceu para ser punk, assim como o punk nasceu para ser skate.

Apesar do Güettoh ter uma década de existência, confesso que conheço a banda de Guarulhos há apenas alguns meses. Com uma sonoridade pesada e rápida, uma mistura de stoner, metal e skate punk a banda vem fazendo seu papel na cena, resistindo a todos os contras que desanimam qualquer banda brasileira ativa no circuito, e levantando essa bandeira do skate punk e letras carregadas de críticas político sociais.

Vamos começar pela pré-história da Güettoh, como se desenrolou esse início de banda?

A banda foi formada em 2011 na cidade de Guarulhos (grande São Paulo) por mim (Fábio) e pelo nosso primeiro baterista, Beg. Eu tinha algumas composições sobrando de um antigo projeto, já fazia um bom tempo que eu e o Beg éramos amigos, andávamos de skate em uma pista local da cidade.

Eu tinha comentado que queria voltar a tocar e estava sem banda na época, estava procurando um pessoal pra começar um projeto novo e na hora ele se ofereceu para tocar bateria.

Começamos as primeiras sessões de ensaio, eu e ele só com baixo e bateria. De primeira já rolou uma sintonia foda entre nós e depois de alguns ensaios fomos atrás de um guitarrista.

Depois de alguns testes chegamos ao Renato, fizemos alguns ensaios como power trio e daí começamos a se apresentar com o nome GHC, que era uma sigla para o nosso nome original, Guetto Hardcore. Daí começou a caminhada do Güettoh nesse mundo do rock underground brazuca.

Atualmente a banda é formada por Fabio Braga (vocal, baixo), Ronaldo Moura (guitarra), Alexandre Barros (guitarra) e Carlos Cordeiro (bateria).

Vocês já tinham em mente fazer esse hardcore com pegada stoner? Quais as principais influências da banda?

Desde do início já tínhamos essa intenção de fazer uma mistura do hardcore com o stoner rock e pitadas de skate punk com uma pegada crossover.

As nossas referências são muitas bandas desses estilos, vão das internacionais as nacionais como Kyuss, Fu Manchu, Corrosion Of Confirmity, High on Fire, Sleep, D.R.I, Discharge, Suicidal Tendencies, Black Flag, Bad Brains, Circle Jerks, Helmet, Melvins, Cólera, Olho Seco, Gritando HC, Lobotomia, Ratos de Porão, Devotos, Inocentes, D.F.C, Ação Direta, Agrotóxico.

Recentemente vocês lançaram o single “Skate Nas Veias”. Muitas pessoas com quem já conversei tiveram seu primeiro contato com o punk rock através do skate, inclusive comigo não foi diferente. Gostaria de saber qual a relação da banda com o skate?

A banda nasceu em sessões de skate, como te disse, a nossa relação com o carrinho não é diferente da maioria da galera da música que conheceu muita coisa do lado musical através do skate.

Sou muito feliz por esse universo ter me proporcionado muito disso, muitas das coisas que eu conquistei e amigos que fiz nessa vida foi através do skate.

Eu e o Carlos andamos de skate antes dele entrar na banda, o encontrava direto fazendo suas sessões de skate, nem imagina que íamos tocar juntos futuramente.

Quando escrevi a letra “Skate Nas Veias” quis passar uma mensagem que o skate tem universos múltiplos e que é para todos. Não o vejo como um esporte, mas sim como estilo e filosofia de vida.

Graças as vacinas, e apesar do bozo, estamos começando a ter eventos novamente, com cautela é claro. Inclusive vi que vocês já estão na atividade. Gostaria de saber como foi voltar aos palcos depois desse tempo tão difícil, principalmente para o cenário da música independente. E o que podemos esperar da Güettoh nesse ano de 2022?

Foi incrível poder voltar a tocar e trocar essa energia com o público, estávamos sentindo muita falta disso, do calor humano, daquele friozinho na barriga antes de uma apresentação.

Com essa fase que passamos, esses dois anos foram muito complicados principalmente para as bandas independentes. Mas apesar de tudo isso conseguimos focar para trabalhar no nosso segundo álbum de estúdio “Paranóia Cibernética Artificial”.

Estamos nesse momento trabalhando em divulgação de singles e clipes, fazendo algumas apresentações esporádicas, para fazer o lançamento oficial no segundo semestre de 2022, e logo poder cair na estrada e divulgar esse trabalho para o mundo.

Em meio a esse turbilhão que o Brasil vem passando nessa última década em que a banda iniciou sua trajetória, o que vocês acham de suma importância transmitir em suas letras?

Somos uma banda com origens no punk e no hardcore, então temos em nossas raízes a consternação, sejam elas sociais, raciais, políticas, e tudo que influencia em nosso cotidiano, isso tudo impacta diretamente as nossas músicas e letras. Então tudo que nos indigna e nos faz sentir injustiçado se transforma em música.

Temos letras como “Violência Urbana” e “Vida Suicida” que tratam de temas de conflitos sociais, letras como “Foda-se” que é uma crítica da intolerância racial e ideológica.

Letras como “Cegos de Ódio” e “Indústria do Medo” que contesta a manipulação do sistema, e temos letras que também discutem sobre o cotidiano que vivemos. E sempre queremos transmitir que somos muito importantes em todas as nossas atitudes para esse mundo, sejam atitudes positivas ou ruins.

Vocês veem uma luz no fim do túnel?

Claro que vemos uma luz no fim do túnel e um mundo melhor para todos nós, temos a possibilidade de fazer desse mundo um lugar melhor para todos, apesar de todas as desigualdades, injustiças e miséria que o poder e o sistema causam através da guerra e manipulação.

Acredito que união, autogestão e equilíbrio espiritual e mental, são essenciais para que tornemos esse mundo algo mais justo, com um pouco mais de dignidade para todos.

Temos que sempre nos manter positivos, mesmo com todas as dificuldades e adversidades expostas pelo sistema frio, cruel e violento em que vivemos. P.M.A. sempre estará com nós.

Gostaria de agradecer, foi uma grande descoberta pra mim conhecer uma banda como a Güettoh, com essa pegada stoner e skate punk. Com certeza quero ir a um show de vocês, ansioso para ouvir esse novo álbum também. E deixo esse espaço aberto para se manifestarem livremente.

Nós que agradecemos a Bus Ride Notes pelo espaço e o trabalho que vocês fazem divulgando a cultura underground, seja ela através da música, arte, escrita ou da mídia impressa e digital. Admiramos muito esse trabalho especial de resistência que vocês exercem.

Para nós do Güettoh é uma satisfação saber que nossa música está atingindo pessoas e que a mensagem está chegando a tantos lugares. Temos a consciência de que ter uma banda de rock pesado nesse Brasil não é tarefa das mais fácil, mas fazemos tudo isso por que amamos toda essa bagaça, é feita de coração e muita dedicação apesar de todo contratempo.

Estamos aí fortes e vivos, não vemos a hora de cairmos na estrada para divulgarmos esse nosso novo trabalho, para espalhar ainda mais a nossa música.

Muito obrigado a todos que de uma forma direta e indireta sempre nos apoiam, tudo isso só é combustível para nós continuarmos sempre com nosso objetivo, que é poder tocar e alcançar o maior público com a nossa música.

A discografia de Güettoh está disponível nas redes de stream.