Formada por Junio Silva (baixo, guitarra, vocal), Isabela Fernandes (guitarra, baixo, vocal), Guilherme Okamura (guitarra) e Rafael Lamim (bateria), a banda de Brasília, DF lançou em janeiro seu primeiro álbum, “Telefone pra Cachorro”. Com influências de post punk e new wave, o disco tem músicas que falam “sobre situações cotidianas e coisas incômodas e nojentas”, como descreve o próprio grupo.
Conversamos com a banda sobre sua história, o disco e mais na entrevista que você lê a seguir:
Vocês podem falar sobre a banda pra quem não conhece?
Junio: Tigre Robô é uma banda formada por mim, Junio Silva, pela Isabela Fernandes, pelo Guilherme Okamura e pelo Rafael Lamim. Nós começamos a tocar juntos em 2018 como um trio e, em 2024, o Guilherme (que a gente conhecia dos Bananas Caipiras) entrou pra banda. Acho que nossas músicas seguem uma linha de cantar sobre coisas não tão positivas, coisas do dia a dia, mas de um jeito que ainda tem um humor ali. Até quando queremos cantar sobre relacionamentos, por exemplo, ainda é algo com um humor meio torto.
Quais são algumas das influências da Tigre Robô?
Junio: Talking Heads, Gang 90, o início dos Titãs e do Pato Fu, The Breeders, ouvimos muita coisa. Outras coisas menos óbvias: eu ouvi muito o último disco do FBC e o “Clara Crocodilo” do Arrigo Barnabé pra escrever “Atlas” e “Carne de Pescoço”, respectivamente. Também tem muita influência de televisão e cultura de massa que a gente consumia ali quando tava crescendo.
Isa: A gente se divide e se une nas influências de uma forma muito fluida. Acho que crescer assistindo muita TV Cultura fez a gente falar a mesma língua (risos). Desde o começo The Cure e Titãs do velho testamento foram algo que nos uniu enquanto ponto de partida. Sonoridades meio cruas e simples tiveram um grande apelo pra gente enquanto banda, e aos poucos as influências de escritas mais engraçadas, com jogos de palavras, foram adequando o nosso vocabulário por influência dessas coisas mencionadas pelo Junio, que era um lugar comum pra nós também. Gostamos muito de brincar com a nossa língua e usar palavras do Português cômico.
Vocês lançaram o primeiro single em 2020 e o primeiro álbum em 2025. Como foi o processo de composição e gravação de “Telefone pra Cachorro”?
Junio: A maioria das músicas foi escrita logo no início da banda, ali por 2019 e 2020. Foi um processo demorado porque todos nós temos que trabalhar, estudar, etc. A gente não vive de música, então não é possível se dedicar 100% a ficar ali no estúdio gravando. Ainda teve toda uma etapa de a gente aprender a tocar. O Lamim não tocava bateria antes, eu não tocava guitarra e nem cantava, Isabela também não. Fomos aprendendo enquanto fazíamos o álbum mesmo. Fomos intercalando as gravações no Estúdio Manga e na casa do Lamim. Eu e a Isabela nos dividimos pra escrever as letras e, para os instrumentais, geralmente eu chegava com a base mais ou menos pronta e cada um ia adicionando algo. Uma participação bem massa que tivemos foi em “Desconcerto”, com Gabri Zigler no teclado.
Gui: Eu entrei já com as músicas praticamente prontas e gravadas. Participei mais em trazer algumas camadas ou preencher espaços vazios nas músicas. Essa banda é foda e a música é perfeita.
Lamim: Gui você arrasou, obrigado demais!
O disco foi lançado pelo selo Manga Records, que é organizado por Lamim. Vocês podem falar mais sobre essa relação e o selo?
Lamim: De uns anos pra cá eu tô trabalhando com um estúdio em Brasília, o Manga, e acabei pegando esse nome pras produções que faço aqui. Uma ideia antiga era a de fazer um selo, então agora que temos um espaço, tenho conseguido gravar bandas amigas e trabalhos nossos, como esse disco da Tigre Robô.
A cena independente no DF é bem diversa, como a Tigre Robô se insere atualmente?
Gui: Acho que a Tigre Robô, com um perfil muito próprio, faz parte de um tipo de cena que tem emergido em vários lugares da música brasileira. Tem algo de irreverente/humorado, mas ao mesmo tempo ainda procura fazer um som mais “tradicional” em termos de organização. Como eu também sou um Banana Caipira, vejo a Tigre como uma face do “alternatréche”. Na cena do DF, citaria o próprio Bananas Caipiras e no Brasil acho que, cada um com um estilo muito particular, artistas como Sophia Chablau, o início de Ana Frango Elétrico, Exclusive os Cabides. Acho que todos se comunicam nessa coisa alternativa, mas sem a pose dos ultrapassados hipsters cults sem necessidades humanas básicas.
Quais são os próximos planos da banda?
Junio: Queremos fazer uns shows pra apresentar o álbum pra mais pessoas. Também pensamos em gravar clipes pra algumas músicas. Fora isso, é continuar compondo e lançando coisas novas até encher o saco.
Isa: Temos interesse também em tocar em lugares mais descentralizados e não convencionais. Explorar outros cantos que o DF tem a oferecer, especialmente falando de um estado que pensa sua cultura e seu lazer primeiro para o centro de Brasília, e depois, se possível, para as outras Regiões Administrativas.
Últimas considerações? Algum recado?
Junio: Primeiramente, agradecer e mandar um salve pra todos nossos amigos que tornaram possível esse álbum. Segundo, a cena independente tem que carregar a responsabilidade de ser um espaço plural, acessível e descentralizado. A música tem que chegar na periferia, tem que chamar junto quem acaba vendo tudo de fora. Manter esse cenário como um ambiente elitizado, todo branquinho e padrãozinho, é chover no molhado. Não tem que ficar pedindo licença pra ocupar os espaços, não.

Ex colaboradore das antigas Six Seconds e Calliope Magazine, entre alguns blogs de música. Resolveu fazer o próprio site enquanto não tem dinheiro o suficiente pra fazer uma versão BR do Audiotree Live.