Formada em 2024 pelos musicistas da cena underground sorocabana Murillo Fogaça, Felipe Fogaça, Giu Dias e Felipe Marcon, Janeiro Industrial lançou em 2024 seu primeiro EP, “Alteridade”.
O EP mescla as sonoridades emo, indie e hardcore melódico com letras confessionais, escritas por Murillo em formato de diário, exorcizando demônios na tentativa de suavizar momentos de batalhas internas. Elas trazem o debate sobre saúde mental, vivências e assuntos de relevância social, entendendo que é através da luta pessoal que se cria artimanhas para (sobre)viver.
Conversamos com a banda sobre sua história, “Alteridade” e mais na entrevista que você lê a seguir:
Vocês podem falar sobre a banda pra quem não conhece? Aliás, de onde vem o nome?
Felipo: Salve pessoal do Bus Ride. O Janeiro Industrial transita entre o hardcore melódico, o emo e o rock alternativo brasileiro, transformando experiências pessoais em músicas carregadas de memória, identidade e emoção. No palco, a banda entrega a energia clássica do hardcore, fazendo de cada show uma experiência única, que vale a pena ver de perto.
Murillo: Salve salve! Então, o nome surgiu em um antigo projeto de 2017. Em uma votação, esse nome perdeu e “Janeiro Industrial” não foi escolhido naquele momento porque os integrantes não gostaram, achando-o muito subjetivo. Com o tempo, pensei em como poderia deixar o nome para algo que fizesse parte de mim, de uma maneira que eu realmente gostasse.
Na época, conversamos sobre como Sorocaba tem um lado industrial e, ao mesmo tempo, queríamos falar sobre começos e recomeços, e como a palavra “janeiro” sempre traz esse lance do recomeço, essa junção foi o que motivou a escolha para a banda.
Acho que não existe uma resposta exata, mas é interessante a dimensão que cada pessoa dá ao nome. Gosto de entender a motivação e o sentimento de cada um ao receber o nome “Janeiro Industrial”.
Como a Janeiro Industrial começou? Ela é formada por músicos que já eram ativos na cena de Sorocaba, né?
Murillo: A Janeiro começou mesmo em 2024, iniciando suas atividades na metade do semestre. No entanto, nossas primeiras músicas foram baseadas em letras e composições criadas nos quatro anos anteriores. Com isso, convidei alguns amigos de longa data para participar: Giu Dias e Felipe Marcon, além do meu irmão, Felipe Fogaça, que me acompanha em quase todos os projetos da vida.
Todos já tiveram bandas em outros momentos, e a Janeiro conseguiu se estabelecer bem no começo graças a essa bagagem de convivência e ao apoio de pessoas próximas. Marcel Marquês e o pessoal do Asteroid nos ajudaram muito nas gravações, e Fausto Oi, junto com o Bill, também fez parte essencial desse processo.
Algum tempo depois, ganhamos mais dois integrantes na banda. Thayná Marinho, que cuida de boa parte das mídias de foto e vídeo e nos acompanha nos desafios da vida independente, e Laís que sempre nos ajuda na banquinha de merch.
Falando nisso, como é a cena da cidade hoje? Aproveito pra citar o podcast “Recortes Sonoros“, coordenado pelo Murillo, que faz uma reportagem da história da cena sorocabana.
Murillo: Hoje em dia a cena de Sorocaba tem uma força que eu não via há anos, graças à enorme quantidade de possibilidades que a juventude da cidade encontra todo fim de semana. Isso não acontece apenas pelo aumento no número de shows, mas também pelo surgimento de novas bandas, um novo público consumidor, novos estúdios e novos selos.
É importante destacar o Deaf Haus e o Asteroid como peças fundamentais dessa fase. Além disso, há muitas pessoas produzindo de maneira incrível, como o pessoal da Mamão Papaia Produções (confira o trabalho deles, é muito bom!), o Pancada em Iperó, que organiza eventos essenciais para a cidade, e o Lucas e a Bia do Trovoa, que produzem a Feira na Laje. Também vale mencionar o pessoal do Édenground, o Emerson Preto de Íbiuna que sempre está no corre fazendo intercâmbio de bandas, o Rafael, responsável pelo Lobo Fest, um festival na cidade, além de bandas como Wry, Mar de Lobos, Ana Paia, Crime Caqui, Vértices, Cambará, MGRC, Além do Caos, Blind Cause, Estralo Sistem, entre outras, estão sempre conosco e fazem parte da cena.
Muita coisa muda todo ano, então deixo de dica nosso episódio do Recortes Sonoros que conta a história da cidade.
As letras são sentimentais, algo comum em bandas que transitam entre o hardcore melódico e emo (tanto que acho que o emocore foi um termo criado no Brasil?). Como foi o processo de composição de “Alteridade”?
Murillo: Vejo que o gênero do hardcore melódico/emo tem uma forte tendência a explorar sentimentos e estabelecer uma relação mais pessoal com a música. Em nossa estreia, seguimos um pouco essa cartilha, muito por conta das melodias e emoções terem sido criadas em um momento muito especial: o pós-pandemia.
A banda, por si só, ama o hardcore melódico – somos “crias” desse estilo –, mas também temos a intenção de explorar novos caminhos em nossos próximos materiais. Criar tudo isso foi um processo muito autocuidado. Para mim, a banda se tornou o maior refúgio da minha mente insegura. Colocar tudo no papel me permite seguir em frente, funcionando como uma espécie de terapia assistida. Quando eu morrer, espero que alguém revisite essas músicas e se sinta acolhido – da forma que eu mesmo nunca consegui me acolher.
Quais são algumas das influências da banda? Tanto no som, quanto em outros aspectos.
Murillo: Na época em que escrevi “Alteridade”, eu estava em um período em que ouvia bastante Fiddlehead e Basement, o que influenciou muito minha maneira de cantar, especialmente pelo estilo do Basement. Além disso, o Title Fight continua sendo a referência mais marcante, principalmente o álbum Floral Green. Já os outros integrantes trazem influências diversas, como Zander, Hateen, Maglore, Sport (França), Better Leave Town, Zimbra, Triunfe, Hot Water Music, entre outras.
Para as novidades, acredito que os próximos sons terão uma roupagem mais voltada para bandas como Rx Bandits, Lisabi e At the Drive-In, um pouco mais experimentais, mas sem perder a essência energética que já construímos.
Felipo: Gostamos também de trazer influências de outras coisas, como filmes, séries, experiências ou algum livro que possa inspirar alguma coisa, por exemplo, umas das músicas que tocamos traz influência do filme argentino “Medianeras”.
A Janeiro Industrial traz também um discurso fora de suas letras, vocês podem falar sobre isso?
Murillo: Tudo é político — seu lugar de fala, seus pensamentos, suas ações — e isso também se reflete na forma como nos comunicamos com o outro. Acredito que a Janeiro vem de um lugar mais sensível, no sentido de que, ao falar sobre sentimentos e sobre o outro, conseguimos entender melhor a nós mesmos. Nesse processo, banda e público passam juntos por uma espécie de terapia coletiva.
Mark Fisher fala bastante sobre como estamos exaustos todos os dias, sendo julgados e nos julgando, e isso está diretamente ligado à forma como sentimos nossas relações. Por isso, nas letras, é comum encontrar momentos de crítica ao que nos motiva a fugir, ao que nos faz ficar e à necessidade de lidar com situações difíceis. Sinto que, com Queimando Seus Reis, já explorei essa crítica de maneira mais literal. Agora, é o momento de expressá-la de uma forma mais sensível.
O que me motiva nisso é acreditar que as pessoas vão poder sentir e colocar para fora seus demônios, se sentir acolhido é importante.
Últimas considerações? Algum recado?
Felipo: Gostaria de agradecer a todos que acompanham a banda, que nos dão força pra continuar, que vão nos shows, que escutam nossas músicas, que colam trocar ideias, vocês são muito importantes para nós seguirmos com esse projeto. Nos vemos nos shows!
Murillo: Deixo uma menção e agradecimento a Thayná, Matheus, Letícia Laís, Thiago, meu pai e minha mãe que sempre estão com a gente nos apoiando em tudo o que fazemos. Um salve especial para o pessoal da Mamão Papaia Produções que fizeram uma Session incrível conosco (obrigado demais Dan <3) e a todos que pararam para ouvir nosso som em algum momento. Amo todos vocês!
E caso tu tenha ficado até aqui, deixo o convite para você ouvir nossos sons. Nos vemos em breve.
Fotos: Thayná Marinho

Ex colaboradore das antigas Six Seconds e Calliope Magazine, entre alguns blogs de música. Resolveu fazer o próprio site enquanto não tem dinheiro o suficiente pra fazer uma versão BR do Audiotree Live.