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Entrevistas

Entrevista: Marinas Found

Marinas Found é uma banda de Pelotas, RS, formada em 2014 e hoje composta por Pedro Soler (voz, guitarra), Eduardo Walerko (voz, guitarra), Pietro Strickler (baixo) e Arthur Feltraco (bateria).

Em 2017 eles lançaram o primeiro disco, “Marinas Found”, e em Maio desse ano lançaram o disco “Ansiolítico”, foi quando eu conheci a banda.

Eu sou suspeita pra falar porque hardcore melódico é um dos meus gêneros musicais preferidos, mas o “Ansiolítico” é muito bom. A banda toca aquele hc pra toda hora, sonoramente eles são bem concisos.

O primeiro disco é bem pop punk e contrasta com o segundo. Faz sentido dizer que o disco novo é um “amadurecimento” (tenho uma certa birra dessa palavra, mas se encaixa aqui): o “Marinas Found” tem muitas falas sobre “não quero envelhecer e me conformar” (coisa de jovem) e no “Ansiolítico” a mudança é visível. Mas a essência é a mesma.

Como eu comentei na entrevista, o mundo hoje tá tão doente que é difícil saber o que é traço de personalidade e o que é sintoma e isso se reflete nas letras do disco “Por que é tão difícil se libertar das entranhas que nós mesmos criamos?”.

Acredito que muita gente pode se identificar com as letras dele, além dos problemas coletivos tem as músicas como “Vegan Youth” (“Assisti um documentário e algo me acordou”) e quem não conhece um “Jorge”, não é mesmo?

Se você gosta desse som, eu recomendo muito ouvir esse disco.

A banda gentilmente nos cedeu uma entrevista, que você lê a seguir:

Vocês podem falar um pouco sobre a banda pra quem não conhece?

A Marinas Found é uma banda de hardcore formada em 2014 na cidade de Pelotas, no sul do Rio Grande do Sul. Somos quatro amigos que curtem tocar musicas tristes de esquerda juntos (risos).

Lançamos nosso primeiro álbum em 2017, reunindo músicas do início da banda, e o “Ansiolítico” este ano, com uma proposta de lançar um álbum coeso mesmo, pensado e preparado, diferente do outro, que juntamos tudo o que tínhamos até então.

Somos Pedro Soler (guitarra e voz), Eduardo Walerko (guitarra e voz) e Pietro Strickler (baixo). A banda surgiu e se estruturou ao longo do tempo porque eu (Soler) e o Arthur gostávamos de tocar juntos desde crianças. A gente se apaixonou por punk na mesma época e desde então seguimos nesse role. Desde lá teve muita coisa de brincadeira até nos firmarmos na Marinas Found, junto com o Walerko.

No meio dessa brincadeira precisávamos de um novo baixista e o Walerko assumiu a responsabilidade. Com ele a gente virou a Marinas Found mesmo, lançamos os álbuns e começamos a levar a coisa mais seriamente com shows e tal.

Então basicamente a banda surgiu de amizade e de uma pulga atrás da orelha com várias coisas, com nós mesmos, com problemas sociais, com o que a gente tava vivendo ou observando. A gente foi muito ligado um com o outro desde que nos tornamos amigos e também pensamos parecido musicalmente e politicamente, então, tudo caiu como uma luva.

Com o tempo o Walerko quis voltar a tocar guitarra e entrou o Pietro no baixo. Com essa formação lançamos o “Ansiolítico”. Agora o Arthurzinho saiu de novo porque foi fazer mestrado longe de nós e estamos sem baterista, mas logo logo já divulgaremos o novo integrante.

Pouco antes de lançar o disco novo vocês mudaram a formação da banda, né? Como foi essa mudança no processo de composição, e no geral também?

Então, a de antes do disco foi de boa porque na verdade a mudança não excluiu ninguém, ela só adicionou o Pietro. Éramos eu, Walerko e Arthur e viramos eu, Walerko, Arthur e Pietro. A gente não perdeu em nada nesse sentido, só ganhamos.

A composição do “Ansiolítico” foi muito massa porque nós todos nos soltamos bem mais do que no primeiro álbum, ousamos mais e tivemos uma produção mais ganha também. Fizemos uma pré produção do álbum com o Augusto Santos (ex vocalista da Suburban Stereotype) e isso foi muito importante.

A gente costuma se entender bastante nas composições, cada um soma com o que acha massa e vamos nos acertando.

“Ansiolítico” é um disco temático? Várias músicas falam de frustrações ou de problemas mentais e emocionais (o mundo hoje tá tão doente que é difícil saber o que é traço de personalidade e o que é sintoma), isso foi planejado?

Cara, acho que dá pra dizer que é temático dependendo do ponto de vista, mas isso não foi intencional. Tivemos momentos bem deprimidos e ansiosos entre o primeiro álbum e o segundo e isso acabou influenciando muito.

As nossas letras costumam ser bem sinceras e pessoais, então acaba que não é planejado, mas é simplesmente o que sai de nós. Falando particularmente pelas minhas letras, nos últimos anos foi difícil fugir destes temas e tratar outros assuntos.

Quando fizemos o álbum juntamos todas músicas novas que tínhamos e trabalhamos com o Augusto em cima delas, mas no final nada foi planejado, foram só sons que a gente já tinha feito meio que espontaneamente. Acho que por esses motivos que falei acabou que todos os sons são meio ligados, por remeterem a mesma época e aos mesmos compositores.

Quando nós terminamos o álbum, não sabíamos que nome colocar e pensamos umas semanas só nisso. Quando todo mundo já tava cansando, acho que o Walerko perguntou como se chamava o remédio pra ansiedade e percebemos que “ansiolítico” faria muito sentido com a temática do álbum.

Eu não sei exatamente como é a comparação de hoje com outras épocas em questão de números de pessoas com problemas mentais, mas sei que a depressão e a ansiedade só crescem no mundo há algum tempo. Eu sei que as pessoas hoje em dia tomam muito mais remédio do que jamais tomaram, eu sei que nós, nossos amigos e familiares muitas vezes são vítimas de problemas assim, pessoas que tomam remédio, bastante remédio, pessoas que já pensaram em se matar ou até já foram adiante, que não conseguem trabalhar ou estudar e que na real eu acho que tá muito ligado a sociedade como um todo, esses problemas não aparecem numa porrada de gente com as mesmas características e sintomas por nada, existe um fator social, ou vários, importantes.

Então o álbum tenta tratar esses dois lados, o individual e o coletivo.

Pelotas é interior, né? Vocês podem falar um pouco da cena daí? Ela também tem mudado muito nos últimos anos como no Sudeste?

Sim! Então, tivemos muita sorte que quando a gente tava entrando na adolescência tinha uma gurizada que organizava role aqui e que tinha um coletivo chamado Hardcore Pride. Por causa desses caras deu pra ver que uma banda daqui podia ser muito afudê como a Suburban Stereotype era e também nós pudemos ver muitas bandas na nossa frente, e nos aprofundar nos roles de hardcore, como Zander, Dead Fish, Sugar Kane, Bullet Bane e que na época era algo incrível pra nós.

A gente não sabia de role de punk e hardcore e do nada esses caras tavam fazendo esses shows muito foda. Sem falar que os roles que eles organizavam só com bandas locais eram muito do caralho também, eles tinham a mão pra chamar muita gente pros eventos. Então essas coisas nos colocaram no role lá com 14 anos (risos).

Por mais que a gente tenha demorado a virar amigo do pessoal, era algo que nos impressionava e marcou demais. Hoje em dia o role é bem mais parado, mas a gente segue tentando movimentar, dia 23 estamos trazendo o Surra pro terceiro Nosco Fest, que é um role que a gente da Marinas organiza. Então a gente segue tentando com o pessoal que curte fazer evento aqui e tá sendo bem massa.

Sobre estar mudando, ela mudou um pouco pra pior nos últimos anos porque parece que ficou parada, mas felizmente, de algum tempo pra cá parece que o pessoal tá se mexendo mais de novo, então, veremos mais pra frente (risos).

Últimas considerações? Algum recado?

Gostaríamos de divulgar nossa maravilhosa agenda se possível (risos). Dia 23 agora em Pelotas teremos o Surra no Galpão e dia 30 fecharemos o mês com o Audiocore Festival com Sugar Kane, Chuva Negra, Violet Soda, Radical Karma, Suerte, Inimigo Eu, nós e a Atria, em Porto Alegre no Oculto. Vai ser muito foda e vale a pena procurar qualquer um desses eventos! Dezembro também iremos a POA, mas ainda não saiu o evento no Facetruque então vamos aguardar pra soltar o verbo, mas pode salvar a data: dia 13, sexta-feira de Dezembro vamos a POA again.

Gostaríamos de dizer para todos tentarem ficar bem, porque a situação brasileira tá muito fudida! Precisamos estar unidos pra enfrentarmos nossos problemas pessoais e coletivos juntos! Sempre em frente com solidariedade e loucurada! A loucurada liberta, experimentem!

Muito obrigado Bus Ride Notes pelo espaço e parabéns pelo corre! Seguimos!

Ouça Marinas Found no Bandcamp ou nas redes de stream: