Há algum tempo eu tenho dificuldade em escrever uma resenha. Por muitos motivos, mas principalmente, como disse Jeremy Bolm, “Eu fiz uma promessa a mim mesmo: se eu for levantar minha voz, serei o mais direto o possível, não importa o que eu possa destruir”. Aparentemente destruí parte da minha criatividade, mas vamo nessa.
Texuga também vai direto ao ponto em “Escárnio e Maldizer”, seu EP de estreia.
“Escolhemos esse título há muito tempo porque só sabemos fazer músicas com muito sarcasmo. Criticamos pessoas conservadoras, reacionárias, com quem não dá para ter um diálogo sério, construtivo. Elas nem querem que a gente exista, como vamos conversar com elas com seriedade? Então o deboche se torna uma arma muito importante”, diz Thaís em entrevista para o Disconversa.
Formada em 2021, a banda carioca tem influências de bandas como The Distillers, Hole e Bikini Kill, além de “tudo que é capaz de gerar raiva”.
O EP tem quatro faixas e começa com “Autoestima”, que critica um privilégio bem específico, como diz a própria letra: privilégio de ser um imbecil, um boçal e mesmo assim se ver como genial.
“Gratidão por fazer o básico, obrigada por fazer o mínimo. Parabéns por registrar o seu filho. Alguém dá uma medalha pra esse menino”.
“Vaquejada” é, como se diz aqui no interior, uma história cheia de presepadas (sinônimo de caos, segundo o Dicionário inFormal): atolada na lama, perdida, sem grana, GPS quebrado e mais.
“Raiva” fala sobre como esse sentimento move as pessoas, particularmente, como ele instiga uma reação.
“Se você me mata, não ouse pedir calma”.
O EP termina com “Não Tenho Medo”, que traz no som uma clara homenagem às influências da banda. A letra fala sobre um tipo de pessoa e a minha cabeça imediatamente faz ligação com aquelas-que-não-devem-ser-nomeadas, que no Brasil, em sua maioria, são mulheres brancas na faixa dos 20 e poucos anos que usam a cartilha da extrema direita pra minar debates sociais. As semelhanças com a Barbie do Gelo lá em 2012 não são mera coincidência.
Texuga é Marcela Valverde na guitarra e vocais, Thaís Catão na guitarra e vocais, Ana Clara Martins no baixo e vocais e Lucas Valuche na bateria.
O EP foi gravado no Estúdio da Salvação (Niterói, RJ), produzido por Arthur Doglio e Théo Ladany, mixado e masterizado por Victor Damazio e a arte de capa é de Mabel Martins.
“Escárnio e Maldizer” está disponível nas redes de stream.
Ex colaboradore das antigas Six Seconds e Calliope Magazine e alguns blogs de música. Resolveu fazer o próprio site enquanto não tem dinheiro o suficiente pra fazer uma versão BR do Audiotree Live.