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Entrevistas

LesboPunk

É pouco provável que você nunca tenha ouvido falar em fanzine porque a maioria das bandas que já publicamos fazem parte da contracultura onde eles foram criados, mas em todo caso: fanzines (mais conhecidos como zines) são pequenas (em tamanho, mesmo) publicações feitas por fãs, geralmente falando de música independente, mas também com os mais diversos assuntos.

Ainda hoje muita gente gosta de fazer da maneira clássica: à mão, geralmente com colagens e xerox, mas muitos também são feitos no computador, até pra facilitar a distribuição online.

Inclusive tem uma reportagem do podcast do Nexo, sobre o movimento riot grrrl, onde falam um pouco sobre zines em uma entrevista com Camila Puni, artista e pesquisadora de zines que já participou de residência artística no LA Zine Fest e deu aulas sobre na Universidade de Tulane (EUA).

“Toda sapa tem um pouco de punk”

O LesboPunk foi lançado no Dia Nacional da Visibilidade Lésbica (29 de Agosto), como o nome já diz, ele é um zine sobre lésbicas no punk.

Amanda Cox, mulher lésbica, ativa na cena punk de São Paulo há sete anos, resolveu criá-lo “pela minha vontade de ver uma cena underground mais ocupada por lésbicas, pra mostrar que o punk rock também é pra nós, sapatas, e, principalmente, pelo meu desejo de encontrar outras sapatonas iguais a mim, apaixonadas por tudo que o punk é e pode vir a ser”.

“Minha ideia pro LesboPunk começou em 2017, e inicialmente era fazer um coletivo; juntar lésbicas da cena pra tentar criar um espaço nosso, organizar eventos só com bandas de sapatão, formar um grupo mesmo. Não deu certo porque quase todo mundo que convidei acabou desistindo, rolaram divergências de ideias e eu não tinha conseguido encontrar muitas lésbicas pra convidar de toda forma. Isso ficou na minha cabeça e fui percebendo que sempre me incomodou a questão de terem tão poucas lésbicas no punk, e no fato de que, pelo menos aqui, não vejo muita união e iniciativas especificamente lesbocentradas na cena. Tentei pensar em formas de transformar essa ideia inicial em algo que desse pra eu desenrolar sozinha, e me veio a ideia de fazer o zine”.

O LesboPunk tem uma leitura bem fácil e dinâmica, são pequenos textos que, em conjunto, servem meio como um guia e ele é bem dividido.

“Comecei escrevendo um pouco sobre a minha experiência pessoal dentro da cena, pra estruturar bem a perspectiva pela qual esse projeto foi idealizado. Na primeira parte falo um pouco sobre gangues dos anos 80 e algumas bandas pioneiras do ‘dykecore’, com o intuito de mostrar que desde o início dessa contracultura já existiam lésbicas criando seu espaço dentro dela”.

A segunda parte é dedicada à indicações de bandas brasileiras com lésbicas na formação.

“Nessa parte eu preferi usar textos que as próprias bandas me enviaram, pra ter a certeza de transmitir a expressão própria de cada uma e deixar um espaço para que pudessem falar o que desejassem divulgar a respeito dos seus projetos”.

A terceira e última parte fala sobre obras de literatura e filmes lésbicos, ainda dentro do punk.

“Produções nesse tom específico não foram fáceis de achar, então as indicações são poucas (porém muito boas)”.

“Meu objetivo foi juntar histórias de grupos lésbicos que surgiram em meio ao punk e trazer visibilidade pras sapatonas que estão na cena hoje em dia; fazer a palavra circular e mostrar pra outras lésbicas que o punk é algo muito mais próximo da nossa realidade do que a maioria imagina (conforme elaboro no texto de abertura), e, sendo um pouco ambiciosa, incentivar mais lésbicas a se interessarem pelo punk e começar a criar dentro dele, desde bandas, artes em geral, eventos e grupos, assim como as iniciativas mencionadas no projeto”.

Assim como Amanda, eu espero que mais pessoas se inspirem e comecem a criar os seus (manda pra gente!), afinal de contas é sempre assim, né? A gente vê algo que curte, se inspira e sai fazendo o nosso.

“Ainda não sei pra onde o projeto irá depois desse primeiro lançamento, mas pelo retorno que tive até agora penso na possibilidade de criar edições futuras”.

No linktree você encontra além do zine (original e em inglês pra você mandar pras amigas de internet que conheceu no antigo perfil do Personals), os agradecimentos, fontes e playlists no Spotify e Youtube.