Rapadura Records é um selo e gravadora independente de São João del Rei, MG, formada em 2017 por amigos que fazem parte de bandas da cidade. Seu cast é composto por artistas que puxam pro indie, punk e garage rock.
Na nossa conversa eu percebi claramente que quem busca de algum modo fomentar a cultura acaba exercendo vários papéis: os integrantes do selo também produzem eventos, são musicistas e divulgam inúmeras bandas. E isso é comum na cena independente.
Como eles mesmos disseram: “os selos podem unir pessoas com interesses semelhantes… então encaramos como um espaço de troca em que os artistas são valorizados e têm maior alcance pra apresentar seu trabalho”.
Confira abaixo nossa entrevista.
Ao fim do texto disponibilizamos uma playlist com as bandas e artistas da Rapadura Records.
Vocês podem falar um pouco sobre o selo pra quem não conhece? Como surgiu a Rapadura Records?
A Rapadura surgiu em 2017 com quatro amigos que são apreciadores e atuantes em bandas de rock autorais independentes. O selo nasceu em uma cidade do interior de Minas, São João del Rei, que já tem um histórico cultural forte, devido ao conservatório e a universidade federal.
Contamos com a ajuda inicial de amigos mais experientes (sempre citamos e agradecemos o Loot e o B) pra começarmos a produção dos eventos, também em 2017, e a gravação e distribuição dos artistas do selo. Já trouxemos várias bandas de São Paulo, Belo Horizonte e outras cidades do interior mineiros e até de Brasília. Temos um cast com dez artistas e dezenas de músicas nos streamings.
A gente tem uma visão muito punk sobre música, então valorizamos o DIY e sempre fizemos tudo na raça. Hoje somos três (Igor, Juliana e Vinícius) e seguimos tentando fazer o nosso melhor pela cultura da cidade e pelas bandas autorais.
Temos um post no site com uma trajetória mais detalhada pra quem se interessar.
Vocês podem falar sobre as bandas do selo num geral? Como foi se formando o cast ou o que faz um artista entrar pra Rapadura Records?
As bandas são de rock independente e a maioria é daqui de São João, mas atualmente acolhemos bandas de Belo Horizonte e do Rio de Janeiro também.
O cast se formou como um modo de colaborar e ajudar artistas independentes que se interessaram, divulgando material, fazendo a ponte com os streamings e produzindo shows.
Temos um posicionamento político bem claro também, então as bandas são todas anti Bolsonaro, contra LGBTfobia, machismo e racismo.
Como vocês enxergam o papel das gravadoras e selos independentes hoje em dia?
Hoje em dia o acesso a meios de gravação e lançamentos ficaram muito facilitados pela internet, o que torna o meio musical muito mais acessível.
Os selos podem unir pessoas com interesses semelhantes, facilitar a troca de informações sobre as gravações caseiras ou ainda possibilitar distribuições de mídias físicas, então encaramos como um espaço de troca em que os artistas são valorizados e têm maior alcance pra apresentar seu trabalho.
Além do selo, vocês também produzem eventos, certo? Vocês podem falar um pouco sobre isso?
Começamos a produção em paralelo ao selo, como um braço do que a gente pode fazer pelos artistas. Contamos com ajuda do Loot no começo e conseguimos ocupar muitas noites sanjoanenses durante esses cinco anos de existência.
Estamos voltando com a produção agora e nosso evento de retorno vai contar com Jair Naves, Fábio de Carvalho e a nossa Remédio Sem Causa. Estamos gestando um festival com as bandas do selo também, pra acontecer em breve.
A gente sempre se esforça pra fazer dos nossos eventos espaços acolhedores para todos os públicos e estamos sempre de olho pra evitar qualquer constrangimento, machismo ou LGBTfobia, porque a cena independente também é sobre acolhimento e possibilidades pra todes.
Pensando no mundo antes do Covid, como é a cena na região de São João del Rei?
São João sempre teve uma presença cultural forte, seja pelo samba ou MPB, pelas orquestras centenárias ou pelo rock. O pessoal brinca que aqui você balança uma árvore e cai um músico.
Tínhamos alguns bares voltados mais pro público do rock antes da pandemia, que agora estão reabrindo, mas as bandas autorais sempre fizeram seus corres independente disso. Os meninos da Remédio Sem Causa já tocaram no porão da casa do Vinícius (baixista) quando estavam começando e já fizemos rolê em república também, então espaços alternativos e bandas sempre existiram por aqui.
Recentemente fizeram até um mini documentário sobre a cena mais antiga e muitos dos que tocavam nos anos 80 ainda tocam, agora ao lado de uma geração de bandas que renovou o rock da cidade.
Vocês têm um blog que fala sobre artistas além dos que têm um vínculo com o selo. E a página do Instagram segue a mesma linha. Como surgiu isso?
O site surgiu em 2020, início da pandemia, quando percebemos que os shows não estariam de volta tão cedo, mas queríamos achar um jeito de manter nossas atividades e profissionalismo.
O site também é um veículo pra concentrar o material das bandas e incentivar as pessoas a, se vierem por um artista específico, conhecerem o restante do cast.
O Instagram veio antes, mas sempre atualizamos ambos com notícias das bandas, lançamentos, shows e algumas resenhas.
Últimas considerações? Algum recado?
Queremos agradecer muito ao espaço que vocês deram pra gente, pra falar um pouco sobre o selo e sobre nossos ideais. Acho que o principal recado desse ano é: votem com consciência e continuem se cuidando.
Ex colaboradore das antigas Six Seconds e Calliope Magazine e alguns blogs de música. Resolveu fazer o próprio site enquanto não tem dinheiro o suficiente pra fazer uma versão BR do Audiotree Live.